Apresentação de nosso trabalho e algumas regras de hebraico bíblico:Como pode ver o caro visitante, usamos aqui uma tradução não judaica da Bíblia, desfazendo-nos de vãos preconceitos que a nada conduzem, buscando simplesmente a melhor forma de ajudar ao que busca o estudo. Optamos por esta tradução (Atualizada) em lugar da edição Revista e Corrigida, ou outras, por parecer-nos a mais fiel ao texto hebraico, e por faltar em língua portuguesa (pelo menos a nosso conhecimento) uma tradução rabínica da Bíblia. Outrossim, esperamos contar com a compreensão do leitor em concernência ao fato de que livros que foram escritos em línguas antigas, como é o caso da Bíblia, é impossível que sejam traduzidos fidedignamente a idiomas modernos, especialmente quando a cultura diverge, pelo que mesmo sendo esta a tradução mais fiel que encontramos, ainda deve-se considerar que como rabinos e responsáveis por nossa fé e conduta, nos lugares onde achemos necessessárias notas explanativas ou correções, esta serão adscritas. Trechos que hajam sido traduzidos metodicamente afim de induzir o leitor a crer no que o tradutor defendia como verdade, mas que no trecho hebraico seja distante do que realmente foi traduzido, a explanação estará cuidadosamente inserida de forma a não ferir os sentimentos do tradutor, mas suficientemente diretos para conservar a fidelidade ao texto em sua origem. Casos há que dependem da leitura correta segundo os sinais massoréticos, e que sem eles qualquer leitor que saiba suficientemente o hebraico atual e o antigo poderia confundir-se. Como exemplo, citamos Zacarias 12:10, onde o tradutor leva a crer que refere-se o texto a determinada pessoa, e se a pessoa der atenção ao sistema de pontuação semítico, perceberá que trata-se de algo como uma guerra entre irmãos, sendo a tradução ali errônea e indutora a determinada forma de fé à qual apegam-se muitos ocidentais. Mesmo rabinos do passado, como Rabi Abraham ibn-'Ezrá, que vivera no meridiano espanhol no princípio do segundo milênio da era comum ocidental, optara por escrever sua exegese neste verso utilizando o sistema chamado "derach", ou seja, não literal. Outros casos há de uso linguístico de termos ocidentais para traduções de palavras ou verbos que são próprios dos idiomas semíticos, como o verbo "criar", que não traduz a idéia de "bará" em Gênesis 1:1. Na maioria dos casos, basta passar o ratinho sobre a palavra para obter a explicação, salvo alguns trechos nos quais a necessidade de explanações mais prorrogadas obrigaram-nos a inserir um "link" que conduzirá a uma página especial separada. Outras alusões serão feitas nos casos de tradução intencional a nosso ver, devido à divisão da Bíblia por capítulos, inventada no mundo cristão para desfazer relatos em sua metade, como é o caso de Isaías 53, cujo assunto principia no capítulo anterior, mas foi aplicado a uma pessoa em separado, cuja estória foi escrita posteriormente forjando em sua redação forçadamente a aplicação do conteúdo de parte do trecho através do sistema de separação por capítulos, sem fidelidade histórica, mas apelando para o sentimentalismo curial do ser humano.
Por que não traduzimos nós mesmos a Bíblia?Exatamente por conhecermos bem o hebraico, e sabermos das diferenças que distanciam o hebraico atual do bíblico, e termos consciência plena da pontuação massorética e sua função e influência na tradução, além da diferença que levanta-se como uma inexpugnável barreira entre o hebraico e as línguas ocidentais, antigas ou modernas, não nos atrevemos a traduzir o texto bíblico, tarefa que pensamos ser impossível. Nosso conselho ao leitor: aprender o hebraico, e não limitar-se ao aprendizado do hebraico hodiernamente usado no moderno Estado de Israel, que não somente na pronúncia distancia-se do idioma falado por nossos antepassados, senão também no sistema gramatical difere em muito, incluindo a pontuação e suas pausas. Aconselhamos a todo o que busca aprofundar-se no hebraico visando o entendimento da linguagem bíblica, angariar também isocronamente conhecimento de outros idiomas semíticos, como o árabe e outras línguas da antiguidade faladas na região mesopotâmica e cananéia, e no árabe dê ênfase ao conhecimento da leitura tradicional curânica, que assemelha-se em muito ao sistema de pontuação do hebraico bíblico. O sistema de pontuação hebraico bíblico (massorético)Cônscios de que muitos não têm como entender o que tentamos explicar aqui, buscamos explanar de modo mais sucinto: é como se pudéssemos dizer em português com as seguintes pausas: "No princípio, criou Deus; os céus, e a terra." Seria como se o sistema de pontuação hebraico permitisse em seu meio interrogações e questionamentos: "No princípio..." (que aconteceu?) "...Criou Deus!...." (E, que criou?) "...Os céus..." (Somente isto?) "...E, a Terra!". Em outro caso, vemos o texto explanando o que é o fruto da cidra, elevado entre outras espécies vegetais durante a festa de Sucôt (Tabernáculos) pelos israelitas, no Templo, conforme a ordem bíblica. Ali temos, em determinado trecho, "...Peri ets, hadar..." - ou seja: "...fruto de árvore..." (que fruto?) "...hadar!..." (fruto louvável!), e, em outro trecho, "...peri, ets hadar!" - (que tipo de fruto?) "...fruto, que seja de ávore louvável!". No primeiro caso, o fruto é o louvável. No segundo, a árvore - fatores que dão motivo às controvérsias no Talmud. Os tradutores não hebreus, porém, muitas vezes perdem o sentido devido ao sistema semítico de pontuação.Estas cousas tão simples aparentemente, são coisas nas quais é imprescindível o aprofundamento de estudo do aprendiz do hebraico, pelo que engana-se em muito o que pensa que basta dirigir-se a algum órgão instrutivo sionista e aprender o hebraico. Isto, sem dúvida, ajuda, pois não há como a familiarização com o idioma falado cuja origem e raízes estão no idioma dos profetas, mas não deve-se parar aí, nem pensar pela aparência simples que já consegue entender o escrito no texto bíblico. Como explicado, o sistema difere, e em muito, sendo que mais pormenores serão trazidos nas notas explanativas, pois é impossível escrever tudo em uma única página, e não trata-se esta página de uma aula de hebraico, apesar de adiantarmos aqui alguns pormenores concernentes ao idioma nos casos que se nos pareçam imprescindíveis a explanação, visando a facilitação ao estudante da Bíblia, bem como ao estudante do hebraico, a um tempo. Na versão hebraica utilizada por nós aqui, gentilmente concedida pelo Mekhon_Mamre (Jerusalém), os complicados sinais massoréticos foram "traduzidos" para sinais ocidentais modernos, como vírgulas e similares, para que o leitor saiba mais facilmente onde deve pausar e como, durante a leitura. Esperamos que o leitor já seja cônscio de que o sistema de pontuação massorético não limita-se a "sinais de entonação musical", como deixam pensar alguns rabinos. "Waw ha-hipukh"A função da letra "waw" hebraica é muito peculiar, divergindo inclusive de demais idiomas semíticos. Geralmente ensina-se que sua função é a transformação do tempo passado em futuro, e vice-versa, ponto que não discutimos, apesar de acharmos importante lembrar que o hebraico bíblico não dispõe, como o moderno, de tempo verbal presente. O tempo verbal presente na Bíblia pode aparecer como futuro ou como passado, como pode-se notar em Salmos 1:1, onde o verbo aparece no que seria hoje tempo pretérito.Ou seja, nos casos onde o termo pode ser indicado como verbo em tempo presente pela pessoa que conhece o hebraico moderno, e em Provébios 18:2 aparece no que seria na atualidade tempo futuro. Se o verbo encontra-se no que hoje é tido no hebraico como tempo presente, não trata-se de verbo, senão de denominativo, que os mestrados hebraicos hodiernos chamam de substantivo. Como exemplo, podemos citar aqui a resposta de Esaú para seu irmão quando este compra sua primogenitura (Gn 25:32), e a resposta traduzida "Eis que estou a ponto e morrer...", e seria mais correto traduzir "Eis que sou [simplesmente] um mortal...", pois o verbo aparece no que seria tempo presente no hebraico atual. Em todos os casos em que o "verbo" apareça assim, deve-se entender que refere-se à natureza peculiar individual, e não trata-se de verbo. Quanto ao assunto precípuo do parágrafo, deixado de lado por um momento para esta explanação, a ele tornamos, e acrescentamos aqui ao leitor sua segunda função. O mais importante é estar cônscio de que não vem o "waw ha-hipukh" simplesmente para mudar o tempo, senão para dar continuidade aos fatos no relato. Ao momento em que houver interrupção em seu uso, significa que o que procede sucedera anteriormente, em outra continuidade de fatos anteriores, e também nisto citamos um exemplo para que o leitor possa conscientizar-se melhor do que realmente significa. Em Gn 4:1 temos todo o trecho do final do capítulo anterior em sequente utilização do "waw ha-hipukh", interrompido com a frase "Conheceu Adão a Eva, sua mulher; ela concebeu...", o que significa que todo este relato ocorrera antecipadamente ao relato anterior, que nos conta acerca da expulsão do casal do Jardim do Éden (Gn 3:22-24), incluindo o nascimento das crianças. Este é o motivo pelo qual o famoso exegeta provençal da Idade Média, Rabi Chelomo Isĥaqi (mais conhecido pelo acróstico "Rachi"), diz ali em sua exegese: "Já a conhecera...", significando "anteriormente à expulsão". Esta regra, porém, perde seu valor nos livros mais tardios, como o livro de Jó, onde o sistema explanado aqui já não é comum, por tratar-se de um hebraico mais tardio. O melhor exemplo, talvez, seja o Cântico de Moisés (Êxodo 15:1) ao término da travessia do Mar Vermelho, que principia com as palavras "Az iachir..." - (Cantou, então..."), que no hebraico hodierno indica futuro ("Então cantará..."), e ali é passado. Tornara-se este trecho motivo para discursos toráticos de rabinos que não adquiriram conhecimento suficiente do idioma de nossos antepassados, e vivem mergulhados noite e dia somente nos exegetas sem saber como chegaram às explanações que escreveram. Quem dera tais discursos fossem fundamentados simplesmente no sistema chamado "derach", sem que dêem a entender ser o sentido literal do texto... |
Bíblia - Versão Hebraica do Mekhon_Mamre
Tradução: - João Ferreira de Almeida(Versão Revista e Atualizada)Com notas do rabino J. de Oliveira (Israel)
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