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REGRAS DE LÍNGUA HEBRAICA:

Caro leitor:

No escrito original de Rabi Mochê ben-Maimon, esta mesma frase lê-se assim: "...não enfraqueça o forte, nem fortaleça o relaxado; não faça mover-se o que descansa, nem descansar o móvel..." - mas, como todo tradutor sabe, existem expressões que são impossíveis de serem traduzidas ao pé da letra e palavra por palavra, e este é um dos casos no qual a expressão tem que ser traduzida, não as palavras.

Rabi Samuel ibn-Tibbon, um dos maiores tradutores de escritos do Rambam do árabe para o hebraico no passado, disse: "... O tradutor necessita três utensílios para efetuar uma boa tradução: 1) conhecer bem o idioma do qual traduz; 2) conhecer bem o idioma ao qual traduz; 3) ter pleno conhecimento do assunto acerca do qual trata o escrito em tradução.

Ao ler estas palavras de Rabi S. ibn-Tibbon - e, apesar da sabedoria expressa nelas, dirá o leitor: "-Por que traz algo que nada tem a ver com o assunto? necessito as palavras de Ibn Tibbon, e todo este prolongamento no texto?Para que...?"

Vou explicar, e espero muita atenção do leitor, devido à importância do assunto:

" A criação do Estado de Israel tem seu lado positivo para os judeus, e não falta-lhe também o negativo, e de peso idêntico, ou mesmo maior, em certos casos.

No que concerne ao hebraico, por exemplo: renascera como idioma. Isto é bom. Sua pronúncia original fora lançada ao lixo - seja segundo as normas sefarditas, recebidas de geração em geração, fiéis às regras gramaticais, seja nas formas asquenazitas, seja na iemenita - também esta muito fiel à gramática, conservadora de influências sucintas do hebraico falado no norte da Terra de Israel no período do Segundo Templo no que concerne à vocalização das letras.

Os pequenos núcleos sefarditas de Safed nada tiveram valor para que deles algo fosse aprendido. Nem mesmo o próprio Ben-Yehudah - o criador do hebraico moderno - foi obedecido no que atine à pronúncia do hebraico por seus inúmeros séquitos. As comunidades sefarditas do oriente - em cujos núcleos de estudiosos falava-se o hebraico - em algumas regiões, apenas no Chabat, em outras, um pouco mais - algo como concorrendo com o ladino, ou djudeo-espaniol - destes nada se aprendeu. Em lugar disto, buscara-se no Estado de Israel aproximar cada vez mais a pronúncia hebraica aos idiomas europeus - aquela espécie de "sentimento de inferioridade do judeu, mais conhecido como judas" comum aos da diáspora, que parece não querer abandonar nosso povo, e mais ainda, parece que nosso povo tem mais medo de abandoná-lo.

Já tive a oportunidade de ouvir entrevistas nas quais os entrevistados foram filólogos e orientalistas israelenses - em árabe e hebraico. Sua pronúncia do árabe, faz inveja a qualquer árabe; sua pronúncia do hebraico, faz inveja a qualquer alemão: até parece que têm vergonha de admitir que o hebraico e o árabe são línguas irmãs, ou de admitir que nós, os judeus somos semitas. Pela forma como insistem que seja inculcada em nossas crianças a pronúncia de nossa língua, parecem esperar que um milagre se nos ocorra a qualquer momento, e transformemo-nos em arianos.

Mas, deixemos nossas dores, e vamos ao que interessa:

"...não pronunciar o forte como o lene, ou o lene como o forte;..."

O "lene" - são as letras nas quais não haja "daghech", e não somente b, g, d e k, p, t - senão todas as demais. uma "L" (lâmed) com "daghech" deve ser pronunciada como sendo dupla (LL), e os brasileiros desconhecem este som, mantido ainda pelos lusos, que pronunciam distintamente o pronome "ela" (que na grafia antiga escrevia-se "ella") da finalização de qualquer palavra com mesma terminação na qual a "ele" não seja dupla.

O mesmo com relação a qualquer letra. Tomemos o próprio "Chemá' como exemplo:

"wehaiú ha-debharim ha-êle..." - a letra "dálet" ("debharim") descansa - ou seja - leva "daghech", e "chevá", e neste caso o "chevá" deve ser obrigatoriamente pronunciado como se fosse "segol".
A letra "bet" aqui foi transliterada com "bh" por razão da pronúncia do "bet" lene de acordo com a tradição sefardita, segundo a qual a letra "bet" jamais possui som de "v", como entre os asquenazitas e parte dos iemenitas. Na tradição sefardita - a "b" sem "daghech" é pronunciada como "b" em português, e com "daghech" - como dupla "b" pronunciada em conjunto (como "abba" - "pai" em aramaico). Portanto, os sefarditas não dizem "Avraham" em lugar de "Abraham", nem "Ia'akov" em lugar de "Ia'aqôb". Há divergência entre os sefarditas apenas na pronúncia da letra "waw", que em algumas comunidades é "v", tornando-se "u" apenas nos casos nos quais leva "daghech", e em outras, é sempre "u", e quando leva "daghech" - trata-se de um "u" mais forte, mais acentuado, pronunciado menos rapidamente, à maneira árabe, como fazem os iemenitas.

"...não tornar curta ou surda uma vocalização sonora, nem sonora uma que seja curta ou surda."

As diferenciações entre a fonética do "qamaç" e "pataĥ", "segôl" e "çerê", "chevá ná'" e "chevá naĥ" estão quase perdidas, mas ainda é comum na liturgia de judeus orientais, especialmente sírios, iraquianos e persas, nas sinagogas cujos "ĥazanim" são idosos.

o qamaç (hoje chamado "kamátz") é um "a" fechado, aproxima-se um pouco do "ó" em português, sem deixar de ser "a". Acerca disto escreveu Rabi Baĥie Ibn-Baqoda, da época do gueonato babilônio. Assemelha-se á pronúncia do Nome de Deus em árabe, onde o "a" ß cerrado.

O "çerê" (atualmente: "tzerê") aproxima-se do "i", sem deixar de ser "ê".

O "segôl" - aproxima-se do é - é pouco mais aberto que o çerê. Antigamente, era chamado "pataĥ-segô" - isto é - uma segunda forma de pataĥ

Algumas letras

A letra "ĥet" é fortemente aspirada, e vem de dentro dos pulmões, não havendo motivo para confundí-la com a "kaf refuiá" ("khaf"), que forma-se quase no mesmo local onde se faz a "kaf", apenas pouco mais adentro.

a letra "qof", hoje transliterada nos cursos modernos como "k" e chamada "kuf" - nada tem a ver com a pronúncia desta - sendo idêntica à letra que tem o mesmo nome em árabe. é formada comprimindo-se a parte superior-posterior do palato ao final da língua.

Tet - em nada se parece com a "tav", ou "tau". A letra "tau" é lábio-dental, e a "tet" - palatal.

Nenhum idioma semítico dispõe da junção "tz" - sendo erro pronunciar a letra "çadi" - "s" palatal - como "z" alemão, que equivale ao "zz" italiano na palavra "pizza". Deve-se pronunciar o "s" puxando a língua para dentro para obter a pronúncia desta letra como se deve. Não é similar à "sâmakh" - lábio-dental.

"Gímal" tem o som de "g" na palavra "gato", exceto quando não leva "daghech", quando equivale à junção "gh" de certos idiomas. Equivale, em árabe, à letra "ghain".

É formada pouco mais adentro do local onde se faz a "gímal" na boca.

"Rêch" é como "r" em portugês na palavra "caro", jamais pode ser pronunciada como a "rech" israelense; para os que são familiarizados com a pronúncia israelense - a letra "rech" é feita em Israel conforme deve-se pronunciar a "gímal refuiá" (som de "gh" citado).

Concernente às letras "tau" e "dálet":

Há divergência entre as comunidades sefarditas e orientais no mundo como deve ser pronunciada a letra "tau" e a letra "dálet" quando não levam "daghech": Os tunisianos, os iraquianos e mais alguns pronunciam-nas como os iemenitas - isto é, semelhante ao "th" inglês, e há base para tanto no talmud. Os asquenazitas transformam toda "tau" sem "daghech" em "s", pelo que provavelmente num passado remoto pronunciavam-na como "th".



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