Qual o caminho???

Normalmente, nós, descendentes dos "anussim", crescemos sem que nos transmitam consciência alguma de nossa judeidade, i.e., não somos informados por nossos pais do fato de pertencermos à nação hebraica. Quando isto se passa, já nos encontramos adolescentes, ou em idade adulta. A perplexidade nos atinge de forma surpreendente, e o desejo de retornar ao seio de nosso povo, o qual desconhecíamos, se torna cada vez mais insuportável.

Cada um de nós tem sua história, suas descobertas… a um, os pais revelaram em idade adulta; a outro, relatou a avó o passado da família, etc. Todos, entretanto, temos algo em comum: não fazemos parte de um grupo religioso escolhido por nós, senão imposto a nossos pais, os quais pagariam não somente com a própria vida, e com os próprios filhos, que tornar-se-íam sacerdotes da fé que lhes causava tanto sofrimento após o condenamento dos progenitores ao cárcel perpétuo e suas humilhações, ou à fogueira, após as inúmeras torturas.

Quando nos deparamos com a realidade, devemos procurar ser calmos, entender que não é uma situação simples, senão exacerbadamente delicada. Há casos de pessoas cuja revelação lhes veio durante o momento no qual o próprio pai falecia, sendo o destinatário da revelação nada mais que um "noviço", isto é, aspirante ao sacerdócio católico romano. Que significaria para alguém assim tal descoberta repentina? Difícil exprimir…

Deve-se buscar um rabino ortodoxo, relatar todo o fato em todos os pormenores. É comum entre os descendentes dos anussim o ocultar pormenores. Essa tendência certamente já é-nos inerente em nossos genes pela inquisição. É algo que já nos ocorre mesmo na infância, na escola e no lar. É necessário que estejamos cônscios desse problema, e saibamos como agir. Nosso interlocutor pode perceber que há coisas acerca das quais hesitamos relatar, e toda a entrevista tende a ser um mal entendido. Há casos em que os rabinos desacreditaram totalmente o entrevistador criptojudeu, e há casos em que chegaram a pensar que se trata de missionários evangelizadores de judeus buscando entrada em algum setor judaico de "linha mais fechada", ortodoxa.

Um relato pleno, por mais difícil que nos seja, poderá servir de auxílio para os que venham após nós. O oposto, também a eles criará dificuldades. Está, portanto, a responsabilidade pelos demais "filhos da nação", sobre nossas espaldas, pesando muito mais do que possamos imaginar.

Certo descendente de "anussim" oriundo da região amazônica me disse: "Contei tudo aos rabinos: relatei-lhes sobre as velas de chabat de minha mãe, e tudo o mais que eu vira em casa de minha mãe e tias, mas eles se desfizeram de tudo!" Perguntei-lhe: "E quanto a teu relato sobre teu diálogo com tua avó?" redarguiu: "Não pude abrir a boca para tocar no assunto…" "Por que? Isto era o principal!" sua resposta foi inesperada: "Não sei! Tive medo!" "Medo de que?" "Não sei, só sei que não conseguia abrir a boca…"

Este caso acima é comum. Não podemos esperar que os rabinos nos entendam: eles vêm de um meio e de culturas totalmente distintas do nosso meio e de nossa cultura. Os casos de sofrimento dos judeus achkenazitas, por exemplo, em nada pode ser comparado ao nosso, nem o nosso ao deles. Não justificamos o fato de agirem muitos como leigos em relação a nosso caso, descartando nossa origem e até mesmo ofendendo-nos no fundo de nossa alma. Mas devemos entender suas dificuldades com respeito a nós.

Ademais, existem seus temores com respeito aos divórcios em gerações anteriores, além de suas dúvidas (com as quais já nos acostumamos, apesar de não aceitarmos,) concernentes a nossas origens. Divórcio em geração anterior, em vários casos, pode ser causador de "mamzerut" (bastardo, segundo os parâmetros da lei judaica, diferente em vários pontos da comum idéia gentílica ocidental. O "mamzer" está proibido de contrair matrimônio com qualquer filho ou filha de Israel que não seja como ele).

Deve-se buscar esclarecer aos rabinos o fato de que nas gerações anteriores, no Brasil, o povo era conspicuamente conservador, e os divórcios eram algo vergonhoso e, por coseguinte, evitados. Os "anussim" sempre procuraram ser "cristãos exemplares" exteriormente, motivo pelo qual o divórcio não foi jamais comum entre nós nas gerações anteriores. Nesses últimos anos, porém, em nossa geração, o fator é comum, e nossa responsabilidade com a halakhá é grande, e o fato deve ser relatado escrupulosamente. Trata-se de nossa responsabilidade para com nossos irmãos, todo o povo de Israel.

Muitos são os casos de "anussim" que já caíram nas redes missionárias cristãs direcionadas aos judeus em geral, ou que foram anteriormente à descoberta de suas verdadeiras origens, pertencentes a algum grupo evangélico, sentindo-se constrangido com tudo o que diz respeito à sua atual situação: seu retorno à fé ancestral significaria sua perdição? Seria o dito cujo realmente o "messias" não reconhecido por seu povo? Nesses casos, antes de qualquer contato com rabinos, escreva-nos, ou contate-se conosco por telefone, e cremos que um diálogo de raciocínio poderia aclarar em muito suas dúvidas, e eliminar seus temores.


rabino@judaismo-iberico.org

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