Preâmbulo à Gemará à | á | â | ã | ä | å | æ | ç | è | é | ë | | ì | î | ð | ñ | ò | ô | ö | ÷ | ø | ù | ú |
Aos leitores que ainda não podem ler o hebraico, minhas excusas sinceras, e exorto-os
ao esforço longânimo e perserverante na aprendizagem do idioma - chave para todo
o que deseja aprender verazmente a Torá. Mesmo o Michnê Torá - é
importante que seja realizado seu estudo em hebraico, e não somente sabendo hebraico,
senão podendo discernir entre hebraico bíblico, michnaico, rabínico-medieval
e hodierno, pois o mesmo foi compilado em hebraico michnaico, cujo sistema idiomático -
diferentemente do hebraico bílico e do atual - exige do leitor o estudo consecutivo,
isto é, sem deixar capítulos sem estudo, sem interrupções em metades
de capítulos, evitando a tendência natural humana de "postergar o que não
me apraz estudar agora", senão indo do começo ao final do livro, sem que haja
como "ler o proêmio, o meio e o fim do livro", e caso o faça, engana-se a si
mesmo - mesmo em trechos especiais e não no todo (e, me refiro a qualquer escrito
que haja sido publicado neste "sistema peculiar do hebraico do período michnaico",
não especialmente ao Michnê Torá) - que é ele mesmo um acervo de
catorze tomos, e passando de tomo para tomo pela mesma ordem, tornando em seguida desde
seu intróito.
A linguagem da guemará difere plenamente da usada na michná - que é simples
e exige leitura contínua e ininterrupta, e é hebraica - pelo que o sistema em uso
parecerá a muitos acostumados a ler livros normais, como se fosse um "emaranhado de
idéias e suposições explanadas por um método conspícua e
inefavelmente abstruso e promíscuo, que consiste numa mescla idiomática de dois
troncos semíticos nos quais foram entressachadas expressões e termos de todos
os falares indo-europeus e semíticos do mediterrâneo e região
mesopotâmica-boreal", pensamento que não se esvai com um pouco de
conhecimento do aramaico usado ali e da aquisição de prévio
conhecimento das regras de estudo pertinentes. Pessoas não acostumadas aos
judeus e sua cultura (e, mesmo alguns assimilados), pensarão que se trata
de "discussões concisas com a finalidade de simplesmente profligar", cada
um buscando irrogar suas idéias e formas de pensar como que no intento de
impor-se, querendo siderar aos demais envolvidos na discussão. O corpo de
sábios que compunham o sanedrin e, após, a "iechibá" (ou: "iechivá")
babilônica, decidiam suas questões - perguntas concernentes a problemas
na halakhá que surgiam em todo o planeta onde chegaram os judeus, e os rabinos
achavam-se impotentes para decidir em determinada questão em suas localidades,
geralmente por ser o assunto algo novo, situações com as quais anteriormente
não se depararam. Estas são as discussões talmúdicas, na maioria
dos casos nos quais achamos a pergunta tão curial à guemará:
"iba'iá lehô" - cujo significado em aramaico é:
"inquirira-se deles
(dos Sábios da Iechibá)", e a decisão vem, se não há
casos precedentes, nem tradição acerca do mesmo transmitido diretamente
desde o Sinai, por decisão da maioria, sendo que a verdade deve ser aclarada,
e não há nos discussores o dolo do "egoísmo cominante" de inculcar
idéias próprias, o que poderá perceber o estudante assíduo em
pouco tempo.
Cabe ressaltar aqui que "iechibá" nada tem a ver com o que se conhece
na atualidade por este nome, senão tratava-se do Bet Din - isto é,
de um tribunal superior judaico de âmbito mundial, no intento de suprir o que
representava o Sanedrin em Jerusalém na época que precedera o domínio
romano em quase tudo - exceptuando-se os assuntos que tivessem conotações
com casos de pena capital, pois somente o tribunal que situava-se no Monte moriá -
onde situava-se o Templo - o Sanedrin, podia julgar, no local chamado "Lichcat ha-Gazit",
dependendo o julgamento em tais casos também do lugar. O termo "iechibá"
origina-se do verbo "iachab" (no hebraico israelense: "iachav") - que pode significar
sentar-se ou habitar permanentemente. Em nosso caso, faz alusão ao escrito:
"Vaiêcheb Mochê, lichpôt et-ha'am..." - "Asssentou-se Moisés
para julgar o povo..." - Ex 18:13.
A dificuldade comum a todos de trasladar-se na história ao ler acervos antigos
em sistemas ainda mais antigos - traz a imprescindibilidade de um livro de regras.
O primeiro do qual se sabe na atualidade foi redigido por Rab Chemuel ben Ĥofni
ha-Cohen Gaon, o segundo, por Chemuel ha-Nagid (ha-Levi) do meridiano espanhol, no
intento de aclarar para sua época os palimpsestos de Rab Chemuel ha-Cohen.
A terceira vez, foi efetuada pelo Ĥakham Ĥaim Benveniste, rabino chefe
do império turco. A quarta, por Rabi Salomão de Oliveira. Todos os que
fizeram-no, seu intuito é um: facilitar o estudo, evitar erros na legislação.
É interessante notar que há algo em comum entre os escritores de livros de regras:
todos são oriundos da mesma origem tribal hebraica, pertencentes todos à
casa de Levi. O primeiro, cohen, os demais - levitas. Oliveira e Benveniste são descendentes do grande sábio de Gerona do séc XII, Rabi Zeraĥia, autor da famosa obra cogominada "ha-Maor" sobre o Alfassi,
são uma mesma família, e se reencontram nos livros - o
"Kenêsset ha-Gedolá"
do Ĥakham Benveniste, da Turquia, e o Darkê No'am do
Ĥakham de Oliveira, da Holanda, cada um buscando mais e mais facilitar a seu modo
o sendeiro do estudioso. Dentre ambos, o escrito por Rabi Salomão parece-me
mais metódico, mais conciso, mais próximo ao coração do
estudante principiante, como um instrutor paciente e preocupado com o êxito de seu aluno,
e em qualquer nível etário e de sapiênscia, pelo que optei por
trazê-lo, em lugar de outros. Certamente pela grande quantidade de descendentes de forçados jovens desejosos de adquirir esta pérola escriniosa que é o conhecimento do Talmud, veio em sua ajuda, facilitando-lhes o caminho. Outrossim, mesmo grandes rabinos podem tirar dele grande proveito.
Certa vez, ao inquirir de determinado rabino (famoso roch-iechivá em Israel) quais sãos os três pontos divergentes entre Ribi El'azar e Ribi Ioĥanan nos quais a halakhá deve ser promulgada contrária à regra, ou seja como Ribi El'azar e não como Ribi Ioĥanan, este não soube responder. Deixei passar uma semana, e voltei a perguntar, e este disse não haver tido tempo para verificar. Esperei mais um mês, e retornei, ao que respondeu que não pudera disquirir acerca do assunto. Recorri a mais dois rabinos que ensinavam em sua Iechivá, e tampouco estes puderam responder, mesmo após vários dias. Entendi, então, o quanto é importante que seja colocada em público o opúsculo "Darkê No'am". A preocupação dos mestres de hoje de entender a exegese problemática e prolixa dos famosos sábios provençais conhecidos como "Ba'alê ha-Tossafot", por vezes sofismáticas em sua essência, não lhes deixara campo para aprofundar-se no Talmud em si. Talvez por este motivo o grande sábio de Vilna - Rabi Eliahu, mais conhecido como "O Gaon de Vilna" era contrário ao estudo dos "Tossafôt" por qualquer estudante que ainda não houvesse estudado todo o Talmud e todo o Alfassi.
" - Ensina a teu discípulo por um curto caminho..." - (Pessaĥim 3b;
Ĥulin 62:b) - é a ordem dos Sábios no Talmud, e esta ordem ordem
foi aplicada pelo rabino de Oliveira cabalmente, sendo todos seus escritos em
formato diminuto, trazendo de forma suscinta a toda pessoa, por mais simplória
e por mais que seja parco seu conhecimento - o caminho curto para a aprendizagem
rápida.
Este compêndio é um exemplo claro disto, sendo o livro diminuto, um
verdadeiro opúsculo, se por um momento cogitamos sobre a grandeza e complexidade
dos assuntos nele contidos.
Ao trazer este livro ao caro hebreu, não distinguiu o Ĥakham de Oliveira entre
jovens ou idosos, asquenazitas ou sefarditas, tampouco eu o farei. este aprimoramento
para uso em computadores como HTML traz ao estudante do Talmud - tanto ao leigo como
ao que já é nele prático - não somente as regras trazidas no livro
de Rabi Salomão, senão também esclarecimentos das mesmas à parte,
comentários, sua tradução para o hebraico, (que aparecerá
automaticamente ao lado da expressão com o simples mover do rato sobre a
mesma, quando se trate de aramaico,) e exemplos do funcionamento das tais regras
em páginas esparsas do Talmud, de acordo com o caso e sua necessidade, nas
quais tive o cuidado de trazer anexa a Michná à qual está relacionada
a página do Talmud, no intuito de facilitar mais ainda ao leitor a compreensão.
Fi-lo, porém, sem trazer ao lado os comentários comuns às páginas
do Talmud na atualidade, ou seja, Rachi (Rabi Chelomo Isĥaqi) e Tossafot
(seus descendentes, exegetas provençais), primeiro pelo sistema enigmático
e mesmo sofismático ao qual se apegam os sábios provençais, que
pode confundir o estudioso leigo - e até mesmo o prático - no que concerne
ao verdadeiro entendimento do "pechat" - sentido simples - do trecho em discussão,
e também por evitar trazer ao leitor esta ou aquela idéia - divergentes entre
si e de outras - de comentaristas, que muitas vezes se distanciam da explicação
outrora transmitida pelos sábios do período imediato pós-talmúdico -
os "gueonim" babilônios, cujas explanações é seu aceitamento
obrigatório segundo as palavras de Rabi Mochê ben Maimon no prefácio
ao livro "Michnê Torá", por haverem sido a eles transmitidas ininterruptamente
por seus antecessores - os últimos Sábios talmúdicos, os "amoraím".
Agradeço a Deus por haver-me concedido este mérito - estando também eu
tomando parte no grande trabalho, que merece admiração, do
grande
Ĥakham de Oliveira
,
que espera pela ressurreição reservada para os justos (Dn 12:13).
Oro pelo êxito dos estudantes "retos de coração". - Sl 119:1.
Nossa versão do livro
Darkê No'am - Poucas palavras em pertinência a este trabalho
(ha-Yitzhari)
(Israel)
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